


João Schroden Jr., autorretrato quando jovem (década de 1920) antes de começar a trabalhar com cinema profissional 35mm.
João Schroden Jr., autorretrato quando jovem (década de 1920) antes de começar a trabalhar com cinema profissional 35mm.




Autorretrato, óleo sobre tela. Nesse dia, contou Eunice Perrone Schroden, sua esposa, que ele havia passado o dia numa fazenda filmando e, quando chegou, impressionado com o próprio bronzeado, resolveu pintar esse autorretrato. Na assinatura da tela, consta: Eu à noite, 11-1/2, Uberaba, 1939.
Autorretrato, óleo sobre tela. Nesse dia, contou Eunice Perrone Schroden, sua esposa, que ele havia passado o dia numa fazenda filmando e, quando chegou, impressionado com o próprio bronzeado, resolveu pintar esse autorretrato. Na assinatura da tela, consta: Eu à noite, 11-1/2, Uberaba, 1939.









Fotos do acervo pessoal de J. Schroden Jr.

Johann Schroden, fotografado pelo filho, “Hans” (nome de batismo de João, que nunca assinou o nome brasileiro, usava a forma alemã Johann, “Johann Jr.”) Sua esposa, Eunice, o chamou de Hans a vida inteira.
João Schroden Jr. nasceu em Bottrop, (Renânia do Norte-Vestfália), na Alemanha em 1909. Chegou ao Brasil por volta de 1921, com os pais, Katarina e Johann Schroden, e suas três irmãs. Desembarcaram no Estado de Santa Catarina e seguiram para Campinas (SP), onde permaneceram um ano, pois logo seu pai, Johann, fecha um contrato de trabalho com a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, como preparador das máquinas de águas no percurso Araguari-Uberaba-Franca. Mudam-se então para Uberaba, onde Johann trabalharia muitos anos na Mogiana, enquanto João Schroden Jr. (que já desde cedo era inclinado a trabalhos artísticos) dava seus primeiros passos na fotografia, dentro do ateliê de um famoso pintor da época, Anatólio Magalhães, que lhe dava aulas de pintura na rua Vigário Silva. Isso mais tarde o levaria a se tornar um consagrado fotógrafo.
João foi um excelente pintor, mas foi na fotografia que, ainda muito jovem, decidiu seguir carreira, sendo considerado, em pouco tempo, o melhor retratista (como eram chamados na época) de Uberaba e região. Em 1934, constrói uma casa para casar-se com Eunice Perrone, tendo cinco filhos, local onde oficializa a Schroden Films, iniciando produção cinematográfica em 35mm.
Entre uma série de produções documentais, João Schroden filmou os presidentes da República Getúlio Vargas e Juscelino Kubistchek, os pracinhas indo e vindo da Segunda Guerra Mundial, mas acabou perdendo seu acervo num incêndio que ocorreu na sala onde eram armazenadas as latas dos filmes, na década de 1950. Os filmes usados na primeira metade do século XX eram de nitrato de celulose, que emitiam um gás que podia entrar em autocombustão.
Os únicos filmes produzidos por João Schroden existentes foram encontrados apenas em 2007, no forro do Cine Metrópole, na avenida Leopoldino de Oliveira, em Uberaba, Minas Gerais.

A História de como foram encontrados os filmes da Schroden Films
A História de como foram encontrados os filmes da Schroden Films
Fabiano Schroden / 2024
Era um grande sonho poder assistir um filme, um filme que fosse produzido pela Schroden Films. Mas como J. Schroden havia dito numa entrevista na década de 1980 a Jorge Alberto Nabuti (in memoriam), depois do incêndio, “não havia restado um filme sequer”.
Mas algo não me deixava desistir, eu acreditava na possibilidade de encontrar alguma das latas de filme perdida pela cidade de Uberaba e, em 2007, resolvo fazer uma visita ao Cine Metrópole, o cinema mais antigo da cidade.
Fui recebido pelo dono do cinema na época, o já falecido Hugo Rodrigues da Cunha, que numa tarde me cedeu boas horas numa prazerosa conversa. Foi como se o tempo tivesse parado ali naqueles momentos, inundado pelas lembranças daquele simpático senhor que reservava tanto carinho pelas lembranças de meu avô. Contou ele, vasculhando em sua memória, sobre o dia em que João chegou eufórico no cinema chamando-o porque havia conseguido projetar seus filmes na parede, depois de ter criado um equipamento sozinho. Hugo foi até a Schroden Filmes e, segundo ele, não acreditou no que viu. “Era um maquinário difícil de entender, uma gambiarra que tinha dado certo” e ali, junto a João, assistiu a algumas projeções do artista, que além de excelente laboratorista, era também um inventor nato.
Eis que, depois de longa e agradável proza, Hugo descansa o olhar por alguns momentos, como num mergulho mais profundo ainda em sua memória, depois volta o olhar pra mim falando “sabe, eu acho que ficou no forro do cinema um saco preto muito antigo em que havia algumas latas, isso faz muitos e muitos anos, pode ser que ainda esteja lá…”. Pedi, quase me ajoelhando, para que eu pudesse ir procurar. Ele disse que era difícil subir no forro do antigo cinema e, assim, chamou dois funcionários. Quando os dois chegaram, relutaram um pouco em executar tal empreitada, mas frente ao meu pranto quase desesperado, decidiram subir. Meia hora depois, chegam os dois, um deles com uma teia de aranha no cabelo atrás da orelha, que me causou desconforto para segurar a risada, e um saco preto grande nas mãos.
Enquanto meus olhos brilhavam ao ver o que tinham trazido, Hugo fala o que eu mais gostaria de ouvir: “pode levar, depois você me conta o que encontrou”.
Em fração de minutos, estava eu no quintal do antigo prédio da Schroden Filmes, passando um estilete no saco para, na ansiedade de saber o que havia dentro, puxar a outra extremidade, fazendo seu conteúdo revelar-se no chão do quintal. As primeiras latas que saíram estavam em grau tão avançado de deterioração que o metal da lata despedaçava-se junto com a película do filme. Um breve desânimo tomou conta de mim: “é antigo demais, nada deve ter resistido aí…”. Eis que, no final do conteúdo do saco, aparecem duas caixinhas de papelão, ultra encardidas pelo tempo. Abro com todo cuidado sem tirar do chão e, dentro, encontro um rolo de filme aparentemente preservado. Pego o rolo na mão, buscando onde estava a ponta como se fosse rolo de fita adesiva que ninguém deixou a ponta, e depois de achar, descolo com todo cuidado puxando e virando para o céu, para então, ver os primeiros fotogramas da Schroden Films aparecerem… Volto o rolo com cuidado para a caixinha junto à erupção de emoção interna que é lançada com o corpo voltando ao alto erguendo os braços para cima numa explosão de conquista com alegria, gritando um “achei!!!” que tenho certeza de que o centro de Uberaba inteiro ouviu. Minha família, que estava na casa, vem ao quintal para entender o que estava acontecendo, enquanto, ainda sem palavras, dar tempo apenas de pedir para que não mexessem ali porque era tóxico e sair correndo ao cinema para dar a notícia do achado ao Hugo.
Na segunda caixinha havia dois rolos, um rolo da Schroden Films também, para minha imensa alegria e o outro, de um documentarista da geração do “Repórter Esso”, chamado Wilian Gerick, que esteve em Uberaba para filmar o desenvolvimento da cidade. Este filme estava em um estado de deterioração muito mais avançado do que os da Schroden Films, o que demonstrava como Schroden Jr. era um excepcional laboratorista, seus filmes eram os únicos que tinham resistido ao tempo, comparado aos demais.
Na mesma semana, já quando havia retornado a Curitiba, estava marcando a data para uma visita à Cinemateca Brasileira, para encaminhar as películas para análise e digitalização.
Aproveitei a situação, por ter um casamento de um primo (Marcelo Schroden) perto de São Paulo no mês seguinte, a convidar meus pais a me acompanharem à Cinemateca Brasileira antes de seguirmos ao casamento. Assim, pude assistir pela primeira vez aos filmes, com meus pais ao lado e, um momento muito emocionante quando estávamos indo embora, foi que, andando no estacionamento da cinemateca, muito feliz por ter os filmes e digitalizados comigo e, também, pelas películas da Schroden Films fazerem parte do acervo nacional a partir daquele dia, de repente, minha mãe fala aquilo que fecharia essa história como a de um belo filme: “Espera aí… hoje é dia 05 de novembro!!!”. Olhei para ela sem entender o porquê da empolgação com a data, até ela contar que era o dia do aniversário de João Schroden Jr.
O vídeo abaixo é muito prazeroso de assistir, me vejo nele relembrando de todos os processos com os filmes da Schroden Films, nos mesmos locais, nesta recente e importante iniciativa da Cinemateca Brasileira.
Agradecimento especial a João Gilberto Tann Rodrigues da Cunha, pelo contato com o proprietário do Cine Metrópole, o Sr. Hugo, que me recebeu no mesmo dia.

FOTOGRAFIA EM TECNICOLOR À LUZ FRIA, PELA PRIMEIRA VEZ NO BRASIL
FOTOGRAFIA EM TECNICOLOR À LUZ FRIA, PELA PRIMEIRA VEZ NO BRASIL

Ampliação fotográfica integrante da “Exposição de Arte Fotográfica a ‘Luz Fria’ em Tecnicolor, Primeira vez no Brasil, 1956”. Essa técnica, novidade realizada por poucos estúdios no mundo, foi patenteada alguns anos depois da exposição de João Schroden Jr., pela Kodak do Brasil, com sede no Rio de Janeiro, sendo a Schroden Films o primeiro estúdio a realizá-la no Brasil, em Uberaba, Minas Gerais.

Ana Schroden, irmã de J. Schroden Jr.
Laurence Norris na exposição, a grande surpresa escondida no livro de assinaturas
Laurence Norris na exposição, a grande surpresa escondida no livro de assinaturas

Tudo começou com a descoberta de um fotograma de uma mensagem deixada no livro de presença da exposição. O único fotograma que foi encontrado além desse foi de uma mensagem de Juscelino Kubistchek à Sra. Eunice Perrone Schroden, esposa de J Schroden Jr., em resposta à análise de apoio governamental para a entidade (creche) por ela fundada, hoje, a creche mais antiga da cidade de Uberaba, A Pequena Casa de Maria. J Schroden Jr. só realizava fotograma de mensagem quando era algo de extrema importância. E quem era aquele visitante que, anterior à sua mensagem escrita em inglês, havia uma escrita em francês e uma terceira em alemão, as três em sequência, na mesma data, presumindo-se que estava acompanhado de europeus? A mensagem é assinada por Laurence Norris, provavelmente o renomado artista internacional que teve grande participação na Segunda Guerra Mundial.

Tudo começou com a descoberta de um fotograma de uma mensagem deixada no livro de presença da exposição. O único fotograma que foi encontrado além desse foi de uma mensagem de Juscelino Kubistchek à Sra. Eunice Perrone Schroden, esposa de J Schroden Jr., em resposta à análise de apoio governamental para a entidade (creche) por ela fundada, hoje, a creche mais antiga da cidade de Uberaba, A Pequena Casa de Maria. J Schroden Jr. só realizava fotograma de mensagem quando era algo de extrema importância. E quem era aquele visitante que, anterior à sua mensagem escrita em inglês, havia uma escrita em francês e uma terceira em alemão, as três em sequência, na mesma data, presumindo-se que estava acompanhado de europeus? A mensagem é assinada por Laurence Norris, provavelmente o renomado artista internacional que teve grande participação na Segunda Guerra Mundial.

“Nos retratos que acabo de ver, no ateliê do Sr. Schroden, saúdo uma novidade no desenvolvimento da fotografia: uma sutileza no uso da luz que expande os poderes da câmera e transforma uma fotografia em um retrato do tempo. Este é o [espírito?] bem como a técnica de um artista”.
Lawrence Norris

“Nos retratos que acabo de ver, no ateliê do Sr. Schroden, saúdo uma novidade no desenvolvimento da fotografia: uma sutileza no uso da luz que expande os poderes da câmera e transforma uma fotografia em um retrato do tempo. Este é o [espírito?] bem como a técnica de um artista”.
Lawrence Norris

Laurence NORRIS foi um grande artista e professor, com obras exibidas na Royal Academy. Servindo como subtenente do Corpo de Inteligência, ele foi designado para o S.O.E., exercendo missões secretas para se encontrar com agentes do S.O.E. Durante as operações na Itália, ele foi premiado com a Medalha Militar por suas ações lutando com as forças guerrilheiras italianas na área de Florença em agosto de 1944. Recebeu uma comissão imediata em maio de 1945. Ele voltou a ensinar arte após a guerra.

Laurence NORRIS foi um grande artista e professor, com obras exibidas na Royal Academy. Servindo como subtenente do Corpo de Inteligência, ele foi designado para o S.O.E., exercendo missões secretas para se encontrar com agentes do S.O.E. Durante as operações na Itália, ele foi premiado com a Medalha Militar por suas ações lutando com as forças guerrilheiras italianas na área de Florença em agosto de 1944. Recebeu uma comissão imediata em maio de 1945. Ele voltou a ensinar arte após a guerra.

‘Old Wives Tales’, sua obra mundialmente conhecida.
Mark Clark em Uberaba, e o filme censurado

Mark Wayne Clark foi um oficial do Exército dos Estados Unidos que serviu durante a Primeira Guerra Mundial, a Segunda Guerra Mundial e a Guerra da Coreia. Ele foi o mais jovem general de quatro estrelas do Exército dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial.

Clark sendo premiado com a Cruz de Serviço Distinto pelo presidente Franklin D. Roosevelt em Castelvetrano, Sicília, Itália, 13 de dezembro de 1943.
Lutou ao lado de brasileiros da FEB (Força Expedicionária Brasileira) na Itália, sendo a sua visita ao Brasil um ato diplomático de reconhecimento dos esforços dos jovens soldados brasileiros.

Clark sendo premiado com a Cruz de Serviço Distinto pelo presidente Franklin D. Roosevelt em Castelvetrano, Sicília, Itália, 13 de dezembro de 1943.
Lutou ao lado de brasileiros da FEB (Força Expedicionária Brasileira) na Itália, sendo a sua visita ao Brasil um ato diplomático de reconhecimento dos esforços dos jovens soldados brasileiros.
Documento de registro de entrada do filme na Cinemateca Brasileira.
Cinemateca Brasileira.

A visita do general Mark Clark a Uberaba foi em 1955, um ano antes da exposição de J Schroden Jr., que ocorreu em 1956. É possível que a vinda de Laurence Norris no ano seguinte à de M Clark tenha alguma ligação, pois ambos tiveram intensa participação na Itália no período da Segunda Guerra Mundial, certamente se conheciam.
O andarilho que J Schroden Jr enviou para Alemanha
para Alemanha

Este é um andarilho que estava passando pela porta do estúdio de J Schroden Jr., que foi convidado para ser fotografado. A fotografia foi selecionada pela Agfa do Brasil, sendo publicada na edição da revista de 1937. O representante da Agfa no Brasil falou que a fotografia havia sido publicada na edição alemã no mesmo ano.

Este é um andarilho que estava passando pela porta do estúdio de J Schroden Jr., que foi convidado para ser fotografado. A fotografia foi selecionada pela Agfa do Brasil, sendo publicada na edição da revista de 1937. O representante da Agfa no Brasil falou que a fotografia havia sido publicada na edição alemã no mesmo ano.

Especificação dos materiais usados na ampliação fotográfica tão elogiada pela Agfa do Brasil, publicada na edição da revista Agfa alemã, segundo representante da empresa no Brasil.

Edição da revista Agfa do Brasil de 1937.


Revista Agfa edição Alemã de 1937, onde provavelmente a fotografia do andarilho foi publicada

Shirley Santana Schroden (in memoriam), grande incentivadora do projeto do Instituto Schroden, fotografada no estúdio do instituto no seu aniversário de 80 anos.
Fabiano Schroden com Tereza de Arruda, mestre em História da Arte pela Universidade Livre de Berlim, onde reside desde 1989, que estava acompanhada do artista vanguardista Nicolas Fisher, também de Berlim, durante a abertura do “50 anos de Realismo” em Brasília, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Na ocasião, Fabiano conseguiu produtivos minutos na disputada agenda da curadora, antes da coletiva de imprensa, com a pauta sobre possíveis caminhos para intercâmbio entre centros culturais Brasil-Alemanha, nos moldes dos projetos que envolvem reconhecimento do trabalho de imigrantes alemães no Brasil. Um dos projetos do Instituto Schroden era enviar o trabalho de João Schroden Jr. em ampliações Fine Art para Berlim.


Carta enviada para família da Alemanha, em 1934, o último contato até 2002, quando Günther Schroden descobre uma imagem na internet de Fabiano Schroden, num site de surf brasileiro, entra em contato com o site pedindo contato com o autor da fotografia. E assim, nasce uma grande história de reencontro familiar, com gerações que viram seus avós dizendo que nunca mais tiveram notícias dos entes do outro lado do oceano.

A primeira vinda da família Schroden da Alemanha ao Brasil,
fotografia realizada no estúdio de Fabiano Schroden em Curitiba.